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quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Influência de madeira no timbre de instrumentos sólidos

 Muito se fala sobre como a madeira altera o timbre dos instrumentos sólidos e não existe um comum acordo entre a comunidade musical sobre isso.

 Num instrumento acústico todas as madeiras da caixa vibram emitindo frequências. É um cenário em que as vibrações da madeira se projetam no ar e nós escutamos. Num instrumento sólido a madeira trabalha muito mais contendo as vibrações, pois não há uma caixa acústica que projete o som como no violão.

 Óbvio que cada espécie tem um timbre mecânico diferente. Mas a primeira coisa que o músico precisa entender é que espécie de madeira não é tudo, que instrumento sólido tem interferência de muitos fatores para gerar seu som e que o som de uma guitarra ou contrabaixo não termina no instrumento.

 Esse sinal vai chegar num amplificador e, na maioria das vezes, por pedais de efeitos. São instrumentos que nós crescemos nos aprimorando em alterar o timbre que vem do jack de saída para chegar no som que a gente quer botar pra frente. 


 O que eu vejo como problemático é que as pessoas parecem achar que a madeira é algo que adiciona som à guitarra ou ao contrabaixo. Eu acredito que a questão é o quanto cada peça de madeira tira da vibração mecânica da corda. 

 Independente do comprimento de escala(distância da pestana à ponte) do instrumento. a corda tem um espectro de frequência amplo e o que vibra primeiro é a corda. O som começa na corda e depois interage com o instrumento. Nessa interação a qualidade de escolha das madeiras pode permitir a livre ressonância e vibração das cordas ou abafar elas.

 Se a madeira não tiver tempo correto de secagem ela vai abafar as vibrações. Madeira úmida não projeta som. Todos os clientes chegam achando que o melhor mogno é aquele mais pesado o possível. Eu já corrijo logo que o melhor mogno é o que estiver mais leve. Tá leve de seco. 

 Levando isso em conta é perfeitamente cabível que uma espécie mais grave soe mais aguda por estar mais seca em comparação a uma peça de espécie aguda que ainda não tenha secado corretamente.
Existem espécies que têm mais sustentação que outras e vão sustentar menos se estiverem úmidas, também. 


 Se a orientação dos veios for quarteada as vibrações vão correr mais livremente do que uma orientação tangencial e o instrumento vai ter mais sustentação, além de maior estabilidade mecânica a empenos. Mas uma peça tangencial muito mais seca que outra quarteada vai sustentar melhor, soar mais aberta e será mais estável do que a quarteada.

 Então, da vibração inicial da corda sustentada entre dois pontos de apoio vai ser FILTRADA pelos componentes mecânicos do instrumento e isso inclui a ponte, por exemplo. Mas falando de madeira, não basta discutir espécies e achar que o timbre é somente isso.

 Se você entra numa loja e pede pra testar 5 instrumentos iguais da mesma marca com mesmos captadores e mesmo madeiramento, os 5 soam diferentes entre si. Portanto, como é que as pessoas acham que vão entender todos os aspectos de timbre de um instrumento somente pelas espécies utilizadas?


 Ainda entra o fato que um captador magnético, de baixo ou de guitarra, só emite sinal pois as cordas excitam o campo magnético do imã, que gera uma tensão inferior a 0,5v na bobina do captador. Um captador magnético não tem o potencial de perceber vibração mecânica que vem da madeira pois a madeira não excita o campo magnético do captador.

 O captador percebe a corda. E a corda pode ter suas vibrações limitadas pelo estado de secagem da madeira, orientação de veios, tipo de ponte do instrumento e qualidade do entrastamento.

 A corda emite vibração, tudo que é mecânico responde a isso e pode cortar parte da vibração da corda ou permitir que ela vibre livremente.
 O captador reage à vibração da corda e emite sinal. 
 
 Fora a emissão de vibração mecânica da corda e a emissão de sinal em milivolts da bobina do captador, todo o resto é corte de frequência.
(Salvo os casos de circuito ativo no instrumento. A diferença entre circuito passivo e circuito ativo é que o passivo só corta frequência e o circuito ativo pode cortar ou adicionar frequências)


-Se uma espécie soa aguda, ela não FABRICA agudos. Ela tem bloqueio de propagação dos graves. E vice-versa. 

-Densidade alta não é sinônimo de grave. Ébano e Wengue são extremamente densas e têm um som agudo justamente por serem muito rígidas, por exemplo.

-Braço em peça única não é sinônimo de mais sustentação.

-Não é uma escala escura ou clara, um braço em peça única, a diferença do Ash pro Swamp Ash, pro Freijó nem nada dessas discussões sem fim que vai fazer o seu som "chegar lá"


 Em termos práticos, o músico influencia no seu próprio timbre mais do que ninguém. Músicos bons tirando som bom de instrumentos simples. E tem gente com instrumentos incríveis na mão tirando nada demais de som daquilo ali. pois esse som vai ser mexido demais depois que sai do jack p10.

 Em termos técnicos o que mais influencia o timbre de um instrumento (sólido ou não) é o conhecimento de quem o constrói.

 É ter a capacidade de perceber as peças de madeira além da escolha de espécies e entender toda a dinâmica que envolve cordas, pontos de apoio, captadores e componentes eletrônicos.

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